A organização que promoveu a passeata de motoqueiros em Luanda de apoios ao MPLA e que terminou, no sábado, com actos de vandalismo, garante que as promessas de gratificação foram cumpridas e aponta “infiltrados” como causadores dos distúrbios. É o habitual.
No passado sábado, cerca de 14 mil motoqueiros foram recrutados para uma passeata em Luanda, a fim de “enaltecer os feitos do Presidente João Lourenço”, uma iniciativa que acabou por ficar marcada por distúrbios em vários pontos da cidade, incluindo a zona turística da Ilha do Cabo e as proximidades da Cidade Alta, junto do Tribunal de Justiça, de elevada segurança.
Pelo menos uma viatura foi incendiada por motoqueiros enfurecidos que, em vídeos que circularam nas redes sociais, queimaram também material de propaganda com a efígie do recandidato do MPLA (mas que dá jeito dizer que era a foto Presidente da República), reclamando o pagamento de 10.000 kwanzas (cerca de 30 euros) que lhes teriam sido prometidos para se juntarem à passeata, que aconteceu no mesmo dia em que João Lourenço, nas vestes de presidente do MPLA (no poder há 46 anos), realizou um megacomício em Luanda
Em declarações à Lusa, Wankana Oliveira, secretário para a informação da Associação de Jovens Unidos e Solidários (AJUS), confirmou que os coordenadores das “placas” (local onde se juntam os taxistas e moto-taxistas) prometeram gratificações aos participantes, cujo valor não quis revelar, nomeadamente para pagar o combustível.
Segundo Wankana Oliveira, os promotores, que já tinham organizado passeatas semelhantes, ficaram surpreendidos com a elevada adesão, mas não ficou em causa o cumprimento das promessas. Aliás, seja na suposta luta contra a corrupção, na criação de empregos, na diminuição do número de pobres (20 milhões nesta altura) ou na extinção da malária (prometida há mais de dez anos), o que o MPLA promete… (não) cumpre!
“Muitos motoqueiros aderiram porque sabem quem está na organização e as pessoas sabem que (Mário Durão, presidente da AJUS) é uma pessoa séria e que cumpre com as suas obrigações”, disse.
Questionado sobre os motivos que levaram os participantes a revoltarem-se, considerou haver um “aproveitamento político” da situação que terá sido levado a cabo por algumas pessoas “devidamente infiltradas e orientadas”. Os chamados arruaceiros. Ou seja, os que não vão à missa do MPLA, os que se recusam a passar o cérebro para os intestinos, os que têm coluna vertebral.
“Algumas pessoas decidiram sair [do cortejo] e foram fazer desmandos, não teve nada a ver com o facto de não haver gratificação”, garantiu o responsável da AJUS.
Admitindo ser militante do MPLA – tal como Mário Durão – Wankana Oliveira rejeitou, no entanto, associar a passeata ao partido (como é óbvio), salientando que a AJUS “também tem militantes da UNITA”.
Reiterou que a passeata serviu para “enaltecer os feitos do Presidente, e não do MPLA”, embora tenham dado a conhecer a realização da mesma às estruturas provinciais do partido. Mera cortesia que, por regra, os sipaios têm para com os chefes do posto…
Devido aos distúrbios, os responsáveis da AJUS foram chamados pelas autoridades para prestar esclarecimentos logo no sábado, já que a polícia está a investigar os incidentes, adiantou Wankana Oliveira.
Informações que não foi possível confirmar até ao momento junto de fonte oficial dão conta da existência de, pelo menos dois mortos, alguns feridos e detenções durante as horas de caos que se viveram no sábado à tarde em Luanda e que provocaram um enorme congestionamento na cidade, obrigando à intervenção policial.
O comando provincial de Luanda optou por ignorar o caso, não tendo até agora comunicado nada sobre os incidentes, nem respondido às tentativas de contacto feitas pelos jornalistas.
O passado sábado marcou o arranque da campanha eleitoral para as eleições gerais de 24 de Agosto, com os principais partidos (MPLA, no poder, e UNITA, na oposição) a dar o pontapé de saída organizando megacomícios, com milhares de militantes e simpatizantes, em Luanda e Benguela, respectivamente.
Folha 8 com Lusa